Read O DIÁRIO DE BRIDGET JONES Online
Authors: Helen Fielding
—
Nós,
mulheres, somos vulneráveis apenas porque integramos uma
geração pioneira que tem a ousadia de não fazer
concessões em amor e depender de nossos próprios
recursos financeiros. Daqui a vinte anos, os homens não vão
nem pensar babaquice emocional porque nós vamos
rir
na cara deles
- berrou Sharon.
Nessa
altura, Alex Walker, que trabalha na mesma empresa que Sharon, entrou
acompanhado de uma loura sensacional cerca de oito vezes mais
atraente do que ele. Alex se aproximou da mesa para nos cumprimentar.
—
É
sua nova namorada? — perguntou Sharon.
—
Bem,
quer dizer... Ela acha que é, mas não estamos saindo,
só dormindo juntos. Eu deveria acabar com essa história
mas, bem... — disse ele, orgulhoso.
—
Ah,
mas isso é uma sacanagem, seu covarde, seu bundinha. Muito
bem. Eu vou falar com essa moça - disse Sharon,
levantando-se da mesa. Jude e eu a seguramos enquanto Alex, com
uma cara apavorada, se afastava de fininho para continuar sua
babaquice emocional.
Nós
três acabamos inventando uma estratégia para Jude.
Ela precisa parar de pensar em termos de
Mulheres
que amam demais
e passar a pensar em termos
de
Homens são de Marte, mulheres são
de Vênus.
Jude vai encarar o
comportamento de Richard não como um sinal de que ela é
dependente e ama demais, mas vê-lo mais como um elástico
marciano que precisa ser bem esticado para bater de volta.
Certo,
mas isso significa que eu devo ligar para ele ou não? -
perguntou Jude.
Não
— disse Sharon, exatamente na mesma hora em que eu dizia
"Sim".
Depois
que Jude foi embora - ela levanta às 5h45 para fazer
ginástica, encontra com a moça que faz suas compras
particulares e só então vai para o trabalho, que
conheça às 8h30 (loucura) — Sharon e eu
ficamos cheias de remorso e raiva de nós mesmas por não
termos dito para Jude se livrar de Richard o Vil simplesmente porque
ele é vil. Mas aí Sharon se lembrou que na última
vez em que fizemos isso os dois voltaram a namorar e Jude contou tudo
o que tínhamos falado num acesso de confissão
reconciliatória e agora é extremamente desagradável
todas as vezes em que o encontramos e ele acha que nós duas
somos as Rainhas Escrotas — o que, segundo Jude, é um
erro porque, embora tenhamos descoberto nossas Escrotas
Interiores, ainda não as libertamos.
QUINTA-FEIRA,
5 DE JANEIRO
58,5 kg (grande
progresso - um quilo queimado espontaneamente graças à
expectativa de uma provável oportunidade de praticar sexo), 6
unidades alcoólicas (muito bom, já que teve festa), 12
cigarros (continuo no bom caminho), 1.258 calorias (o amor não
me deixou beliscar).
11h.
Trabalho
. Ai, meu Deus. Daniel Cleaver acaba
de me mandar uma mensagem. Eu estava tentando fazer meu currículo
sem que Perpétua notasse (estou querendo melhorar na
profissão) quando vi no alto da tela um aviso piscando:
Chegaram Novas Mensagens. Deseja ler agora? Encantada por
qualquer coisa que, bem, não diga respeito ao trabalho,
cliquei rápido em cima do Sim e quase caí dura quando
vi que a mensagem era assinada Cleave. Imediatamente achei que ele
tinha conseguido entrar no computador e ver que eu não estava
trabalhando. Mas aí li a mensagem:
Mensagem para Jones
Parece
que você esqueceu de vestir a saia. Creio que está
bem
claro em seu contrato de trabalho que a empresa espera que, durante o
expediente, seus funcionários estejam vestidos
corretamente.
Cleave
Ah!
Claro que era uma brincadeira sedutora. Pensei pouco enquanto fingia
examinar um chatíssimo manuscrito de um maluco. Nunca tinha me
correspondido com Daniel Cleaver pelo computador, mas esse sistema
tem uma coisa ótima: você pode ser completamente
atrevida e informal até com o chefe. E também pode
ficar horas ensaiando. Eis o que respondi.
Mensagem para Cleave
Senhor,
estou surpresa com sua mensagem. Embora minha saia possa ser
considerada meio curta (nas nossas reuniões edi
toriais
a economia está sempre em pauta), considero péssima
sua
avaliação de que estou sem saia e penso na
possibilidade de
consultar
o sindicato.
Jones
Aguardei a resposta
com grande ansiedade. Chegaram Novas Mensagens começou a
piscar. Cliquei em cima do Sim:
A
pessoa que levou sem querer o original de A MOTOCICLETA DE KAFKA da
minha mesa queira, POR FAVOR, fazer a gentileza
de
devolver imediatamente.
Diane.
Argh. Depois dessa,
desliguei o computador.
Meio-dia.
Ai, Deus. Daniel não respondeu. Deve
estar uma fera. Talvez ele estivesse falando sério sobre a
saia. Ai, Deus. Ai, Deus. Fiquei entusiasmada com a chance de ser tão
informal via computador e exagerei com o chefe.
12h10.
Talvez ele ainda não tenha recebido a mensagem. Se ao menos eu
pudesse recuperá-la. Acho que vou dar uma volta, ver se
consigo entrar na sala dele e apagar
a mensagem
da tela.
12hl5.
Ah. Tudo explicado. Ele está em reunião com Simon do
Marketing. Olhou para mim quando passei. Rá. Rá-rá-rá.
Chegaram Novas Mensagens:
Mensagem para Jones
Se
o fato de passar pela porta da minha sala era uma tentativa
de
demonstrar que está de saia, só posso dizer que foi
totalmente
inútil.
Não existe saia. Será que a saia faltou por motivo de
doença?
Cleave
Chegaram Novas
Mensagens piscou outra vez, imediatamente após.
Mensagem para Jones
Se
a ausência da saia é realmente devido à doença,
por favor,
verifique
quantas vezes isso ocorreu nos últimos doze meses. 0
caráter
espasmódico da presença da saia sugere absenteísmo.
Cleave
Resposta imediata:
Mensagem para Cleave
A
saia não demonstra estar doente nem ausente. Surpresa
com
a atitude fortemente preconceituosa da chefia em matéria de
comprimento da saia. Interesse obsessivo faz supor que a
chefia
está mais doente do que a saia.
Jones
Hum. Acho melhor
tirar esta última frase, que tem uma leve acusação
de assédio sexual enquanto estou adorando ser assediada
sexualmente por Daniel Cleaver.
Aaargh.
Perpétua acaba de entrar e ficou atrás
de mim, lendo o que eu estava escrevendo. Tentei apertar a tecla de
Fechar Texto rapidamente mas, por engano, coloquei o currículo
na tela outra vez.
—
Quando
você terminar de ler me avise, por favor — disse Perpétua
com um sorriso afetado. — Não gostaria que você
fosse
mal aproveitada
na
empresa.
Voltei
para minha mensagem assim que ela pegou no telefone: "Para ser
sincera, Sr. Birkett, o que adianta colocar três pessoas
em quatro quartos, quando
é
óbvio
que o terceiro quarto será do tamanho de um armário?"
Eis o que estou mandando agora:
Mensagem para Cleave
A
saia não demonstra estar doente ou auzente. Surpresa com
a
atitude fortemente preconceituosa da chefia em matéria de
comprimento.
Concidero a possibilidade de recorrer ao tribunal
de
trabalho, comunicar o fato a tablóides sensacionalistas etc.
Jones
Ai, meu Deus. A
resposta que recebi:
Mensagem para Jones
Ausente,
Jones, e não auzente. Considero e não concidero.
Por
favor, tente pelo menos escrever com alguma correção.
Isso
não
significa absolutamente que a linguagem seja algo imutável
e
fixo e não sempre em mutação, sendo uma
ferramenta variada
de
comunicação (segundo Hoenigswald), talvez seja útil
checar
antes
no corretor ortográfico.
Cleave
Estava
completamente arrasada quando Daniel passou com Simon do
Marketing, deu um olhar bem
sexy
para
minha saia e levantou a sobrancelha. Adoro o maravilhoso sistema de
mensagem por computador. Mas tenho de prestar atenção à
ortografia. Afinal de contas, tenho diploma de inglês.
SEXTA-FEIRA,
6 DE JANEIRO
17h45.
Não poderia estar mais alegre. As
mensagens com referência à presença ou não
da saia continuaram a tarde inteira. Não consigo acreditar que
o respeitável chefe tenha trabalhado um minuto que seja.
Situação esquisita em relação à
Perpétua (subchefe), ficou de mau humor desde que soube que eu
estava trocando mensagens. Situação esquisita com
Perpétua (subchefe), já que ela sabia que eu
estava trocando mensagens e ficou muito zangada, mas a verdade é
que o fato de eu estar trocando mensagens com o chefe supremo me
causou sentimentos de lealdade conflitantes — campo de batalha
obviamente desequilibrado onde qualquer um com um pingo de bom
senso diria que o chefe supremo deveria segurar a onda. Última
mensagem lida:
Mensagem para Jones
No
fim de semana, gostaria de mandar um buquê de flores
para
a saia adoentada. Favor fornecer contato o mais rápido
pos
sível
pois, por razões óbvias, não posso confiar na
grafia de "Jo
nes"
para procurar na lista.
Cleave
Siiim! Siiim! Daniel
Cleaver quer meu telefone. Sou maravilhosa. Sou uma irresistível
Deusa do Sexo. Oba!
DOMINGO, 8
DE JANEIRO
58 kg (bom à
beça, mas e daí?), 2 unidades alcoólicas
(excelente), 7 cigarros, 3.100 calorias (ruim).
14h.
Ai, Deus, por que sou tão pouco
atraente? Não posso acreditar que me convenci que não
faria nada o fim de semana inteiro para trabalhar quando na verdade
estava em estado de alerta para o encontro-com-Daniel. Horrível,
perdi dois dias olhando para o telefone como uma psicopata e comendo
coisas. Por que ele não ligou? Por quê? O que há
de errado comigo? Por que pediu meu telefone se não ia ligar
e, se fosse, certamente seria no fim de semana? Preciso me centrar.
Vou pedir a Jude um bom livro de auto-ajuda, de preferência
baseado em alguma religião oriental.
20h.
Alerta: o telefone toca, mas
é
Tom
perguntando se há alguma novidade telefônica. Tom, que
começou a se definir de brincadeira como bicha-velha, tem sido
um excelente apoio na crise deflagrada por Daniel. Tom tem uma
teoria de que homossexuais e mulheres solteiras quando chegam aos 30
anos criam uma ligação natural porque ambos já
se acostumaram a desapontar os pais e a serem tratados como malucos
pela sociedade. Ele me consolou enquanto eu falava sem parar do meu
problema de ser pouco atraente — problema, como eu lhe disse,
deflagrado em primeiro lugar pelo droga do Mark Darcy e depois pelo
droga do Daniel diante do que ele perguntou, embora não
fosse de grande ajuda:
—
Mark Darcy?
Não é aquele famoso advogado, o cara dos direitos
humanos?
Humm. Bom, de
qualquer maneira. O que dizer do meu direito humano de não ter
de viver com um assustador complexo de feiúra?
23h
.
Muito tarde para Daniel ligar. Mto chateada e traumatizada.
SEGUNDA,
9 DE JANEIRO