Read O DIÁRIO DE BRIDGET JONES Online
Authors: Helen Fielding
DOMINGO,
26 DE NOVEMBRO
57,6kg,
0 unidade alcoólica, ½ cigarro (não fumo mais),
Deus sabe quantas calorias, 188 minutos desejando matar minha mãe
(número aproximado).
Dia
horrível. Fiquei aguardando a chegada de mamãe ontem à
noite, hoje de manhã e à tarde; quase fui três
vezes para o aeroporto de Gatwick. Acaba que ela chegou à
tarde no aeroporto de Luton, escoltada pela polícia.
Papai
e eu estávamos nos preparando para consolar uma pessoa bem
diferente daquela que conhecíamos. Ingênuos, achávamos
que, depois de tudo o que passou, ela teria se redimido.
—
Me
larga, seu
pateta
- ouvimos no saguão de chegada do aeroporto.
—
Agora estamos em território britânico, tenho certeza que
me conhecem e não quero que todo mundo me veja
destratada
por um policial. Ih, sabe de uma coisa? Acho que deixei meu chapéu
de palha embaixo da poltrona do avião.
Os
dois policiais fizeram uma cara de espanto enquanto mamãe - de
casaco xadrez branco e preto estilo anos 60 (provavelmente ela
planejou para combinar com o uniforme dos policiais), lenço na
cabeça e óculos escuros – entrava na sala de
bagagens seguida pelos agentes da lei. Meia hora depois, saíram.
Um dos policiais trazia o chapéu de sol.
Colocá-la
no carro da polícia foi quase uma luta corporal. Papai estava
chorando ao volante do seu Sierra e eu tentava explicar para mamãe
que ela precisava ir à delegacia saber se ia pagar uma fiança,
mas só o que ouvi sem parar foi:
—
Não
seja boba, querida. Chega aqui: o que você passou no rosto? Não
tem um lenço para eu limpar?
—
Mãe
- falei, enquanto ela tirava um lenço da bolsa e dava uma
cuspidinha nele.
—
Você pode ser condenada - avisei, com ela esfregando o lenço
no meu rosto. – Acho melhor ir para a delegacia com os
policiais.
—
Veremos,
querida. Talvez amanhã, depois que eu esvaziar a cesta de
legumes. Deixei um quilo de batatas King Edwards lá e devem
estar apodrecendo. Ninguém cuidou das plantas enquanto estive
fora e aposto o quanto você quiser como Una deixou o
aquecimento ligado.
Só quando
papai se aproximou e participou que a casa ia ser penhorada,
incluindo a cesta de legumes, ela ficou quieta e, muito mal-humorada,
entrou no banco de trás do carro, ao lado dos policiais.
SEGUNDA-FEIRA,
27 DE NOVEMBRO
57,6kg,
0 unidade alcoólica, 50 cigarros (isso mesmo), 12 ligações
para o 1471 para saber se Mark Darcy ligou, 0 hora de sono.
9h.
Acabo de fumar o último cigarro antes de ir para a redação.
Estou arrasada. Na noite passada, papai e eu tivemos de esperar duas
horas sentados num banco na delegacia. Até que ouvimos uma voz
pelo corredor.
—
É,
sou eu mesma. Apresento o
De
repente, solteira
todas
as manhãs! Claro que você pode pedir. Tem uma caneta?
Escrevo aqui? Autógrafo em nome de quem? Ah, seu danado. Sabe
que eu morro de vontade de experimentar um desses...
—
Ah,
você está aí, papai - constatou minha mãe,
surgindo no corredor com um capacete da polícia na cabeça.
—
O carro está lá
fora? Sabe, estou morrendo de vontade de chegar em casa e esquentar
água para um chá. Será que Una lembrou de ligar
o
timer?
.
Papai
parecia abatido, assustado e confuso. Eu idem.
—
Você
foi libertada? - perguntei.
—
Ah,
não seja boba, querida. Libertada! Não sei! Disse ela
revirando os olhos para o detetive-chefe e me empurrando rumo à
porta. Do jeito que o detetive estava corado e agitado, eu não
me surpreenderia se ela tivesse conseguido se livrar concedendo
alguns favores sexuais na sala de interrogatório.
—
Mas
o que houve? - perguntei, enquanto papai colocava todas as malas,
chapéus, burro de palha ( Não e uma graça?")
e castanholas no bagageiro do Sierra. A seguir, papai ligou o carro.
Eu tinha resolvido. que ela não ia fugir dos problemas, varrer
tudo para baixo do tapete e começar a mandar em nós
dois.
—
Está
tudo esclarecido, querida, foi apenas um mal-entendido. Alguém
fumou dentro do carro?
—
O
que houve, mãe? O que houve com o dinheiro das pessoas e os
apartamentos do condomínio? - perguntei.
—
Onde estão minhas 200
libras?
—
Arre
! Foi só um probleminha com o projeto dos prédios. Você
sabe que esses funcionários portugueses às vezes são
bem corruptos. Só querem saber de propina e gorjeta,
iguaizinhos à Winnie Mandela. Então, Julio devolveu
todos os depósitos. Acabamos tendo umas férias ótimas!
O tempo estava um pouco nublado, mas ...
—
Onde
está Julio? - perguntei, desconfiada.
—
Ah,
ficou em Portugal para resolver o problema com o projeto.
—
E
como fica a minha casa? E a poupança? – indagou papai.
—
Não
sei do que você está falando. Não tem nenhum
problema com a casa.
Mas,
infelizmente, mamãe estava enganada. Quando chegamos em The
Gables, todas as fechaduras tinham sido trocadas e tivemos de voltar
para a casa de Una e Geoffrey.
—
Arre,
Una. Estou exausta, acho que vou direto para a cama - disse mamãe
depois de ver as caras desapontadas, o lanche frio sobre a mesa e as
fatias murchas de beterraba.
Papai
foi atender o telefone e voltou dizendo:
—
Era
Mark Darcy.
Tentei
não demonstrar que meu coração tinha pulado para
a boca.
—
Ele
está em Albufeira. Parece que conseguiram pegar o... o
cafajeste gomalinado ... e recuperaram parte do dinheiro. Pode ser
que a gente consiga The Gables de volta.
Quando
ele disse isso, todos gritaram de alegria e Geoffrey começou a
cantar "Ele é um bom companheiro". Esperei que Una
comentasse alguma coisa a meu respeito, mas ela não disse
nada. Era sempre assim. Exatamente na hora em que resolvo gostar de
Mark Darcy, todos param de querer me juntar a ele.
—
Aceita
um pouco de chá no leite, Colin? – ofereceu Una,
passando para papai um bule de chá decorado com um friso de
flores de damasco.
—
Não
sei ... não entendo por que ... não sei o que pensar -
disse papai, preocupado.
—
Olha,
não precisa mais se preocupar – interrompeu Una, com um
ar calmo e controlado que não era comum nela. De repente a vi
como a mãe que eu jamais tive.
—
Coloquei muito leite na sua xícara.
Vou tirar um pouco e completar a xícara com água
quente.
Quando
finalmente saí da confusão, peguei a estrada para
Londres a mil por hora, fumando sem parar, num ato de rebeldia
insensato.
DEZEMBRO
Ai,
Deus
SEGUNDA-FEIRA,
4 DE DEZEMBRO
58kg
(hum, tenho de emagrecer antes que chegue a comilança
natalina), 3 modestas unidades alcoólicas, 7 beatíficos
cigarros, 3.876 calorias (ai), 6 ligações para o 1471
para saber se Mark Darcy tinha ligado (b.).
Fui
ao supermercado e, não sei por quê, fiquei pensando sem
parar em árvores de Natal, lareiras, cânticos de Natal,
pasteizinhos de carne etc. Depois percebi por quê. Os
respiradouros do supermercado costumam soltar um cheiro de pão
assado, mas hoje o cheiro era de pasteizinhos natalinos. É
incrível como os comerciantes são descarados. Lembrei
do meu poema preferido de Wendy Cape, que diz:
No
Natal, as c
rianças
cantam, os sinos tocam.
O
ar frio do inverno faz nossas
mãos e rostos ficarem gelados.
Felizes,as
famílias vão para a
igreja,
se envolvem na alegria.
E
a coisa toda vira u
m
horror se você está sozinha.
Até
agora, nada de Mark Darcy.
TERÇA-FEIRA,
5 DE DEZEMBRO
58kg
(certo, vou começar mesmo uma dieta hoje), 4 unidades
alcoólicas (início da estação festiva),
10 cigarros (excelente), 3.245 calorias (melhor), 6 ligações
para o 1471 (franco progresso).
É
uma distração olhar os catálogos de roupas e
acessórios que vêm encartados dentro dos jornais. Gostei
principalmente do apoiador de metal prateado para óculos,
justificado com a seguinte legenda: "Os óculos costumam
ser colocados de qualquer jeito sobre a mesa, o que é um
convite para acidentes." Concordo plenamente. Outro acessório
é o interessante chaveiro Gato Preto, com um mecanismo simples
que, "ao acender uma luzinha vermelha, ilumina a fechadura de
toda pessoa que adore gatos". E os conjuntos de
bonsai!
Que graça. "Pratique a antiga arte
bonsai
com esta caixinha de mudas de árvores-da-seda rosa originárias
da Pérsia." Lindo, lindo demais.
Fico
triste porque meu romance com Mark Darcy, que brotava como uma muda
de árvore-da-seda rosa, foi arrancado pela raiz por
Marco
Pierre White e minha mãe. Mas estou tentando encarar tudo de
uma ótica filosófica. Talvez Mark Darcy seja perfeito e
certinho demais para mim, com sua competência e inteligência.
Além de não ser fumante, não bebe e tem carros
com motorista. Pode ser desígnio de Deus: vou acabar achando
um homem mais extravagante, mais mundano e mais
light
.
Como Marco Pierre White, por exemplo, ou, só para citar um
nome completamente ao acaso, Daniel. Humm. É. Tenho de seguir
em frente, não posso ficar com pena de mim.
Liguei
para Sharon, que disse que não é desígnio nenhum
que eu tenha de ficar com Marco Pierre White e muito menos com
Daniel. A única coisa de que uma mulher
moderna
e atual precisa é dela mesma. Viva!
2h
da manhã.
Por que Mark Darcy não me ligou? Por quê? Por quê?
Vou acabar sendo devorada por um pastor- alemão, apesar de
todos os esforços para evitar que isso ocorra. Deus, por que
eu?
SEXTA-FEIRA,
8 DE DEZEMBRO
59,4kg
(desastre), 4 unidades alcoólicas (b.), 12 cigarros
(excelente), 0 presente de Natal comprado (ruim), 0 cartão
enviado, 7 ligações para o 1471.
16h.
Humm. Jude acaba de telefonar e, quando nos despedimos, disse:
—
Vejo
você domingo, na casa de Rebecca.
—
Rebecca?
Domingo? Que Rebecca? Onde?
—
Ah,
você não foi...? Ela está só reunindo
alguns ... Acho que é uma espécie de jantar pré-Natal.
—
De
todo jeito, já tenho compromisso no domingo - menti.
Finalmente, uma boa oportunidade para espanar todos os cantinhos de
casa. Eu
pensava
que Jude e eu tivéssemos a mesma amizade em relação
a Rebecca, mas então por que ela convidou Jude e não
eu?
21h.
Fui ao bar 192 tomar um vinho com Sharon e ela perguntou: