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Authors: Helen Fielding

O DIÁRIO DE BRIDGET JONES (40 page)


Ah,
olha só, um pênis - disse vovó, segurando um tubo
gigante de chocolate Smarties.


Vou
trocar de roupa - avisei, sorrindo sem graça para mamãe.
Corri para o quarto, abri a janela e acendi um Silk Cut. Vi a cabeça
de Jamie na janela do andar de baixo, também fumando. Dois
minutos depois a janela do banheiro abriu e uma cabeça ruiva
apareceu e acendeu um também. Era a droga da
mamãe.
Meia-noite
e meia.
A troca de
presentes foi um pesadelo. Faço sempre uma festa com cada
presente horrível que recebo, dou gritinhos de alegria, por
isso a cada ano recebo mais presentes horrendos. Quando eu trabalhava
na editora, a namorada de meu irmão me deu uma série de
terríveis escovas de roupa, calçadeiras e enfeites de
cabelo em forma de livro. Este ano ela me deu uma claquete magnética
para geladeira. Una, para quem cada tarefa doméstica exige uma
engenhoca útil e prática, me deu uma série de
minichaves de fenda que cabem em diversos tipos de tampas de jarro ou
garrafas na cozinha. E mamãe, que me dá presentes para
tentar fazer com que minha vida fique mais parecida com a dela, me
deu um fogareiro de uma boca.


Basta
você refogar os temperos antes de ir para o trabalho e colocar
alguns legumes na panela. (Será que ela tem idéia que
há certas manhãs em que é difícil tomar
um copo d'água sem vomitar?)


Ah,
olha só. Não é um pênis, é um
biscoito comprido - constatou vovó.


Pam,
acho que vamos ter de passar esse molho na peneira - disse Una,
saindo da cozinha com uma panela na mão.

Ai,
não, por favor. Agora chega.


Acho
que não precisa, querida - disse mamãe, falando
cuspindo.

Você já mexeu bem o molho?


Não
fique me ensinando, Pam - disse Una, sorrindo de um jeito ameaçador.
Elas se posicionaram como se fossem dois lutadores. Essa história
do molho se repete todo ano. Felizmente, algo interrompeu a luta
iminente: um barulho e um grito quando uma pessoa entrou pela porta
envidraçada. Era Julio.

Todo
mundo
se assustou e Una
deu um grito.

Ele
estava barbado, segurando uma garrafa de xerez. Foi cambaleando a

papai e levantou-o do chão.


Você
dormiu com minha mulher.


Ah,
Feliz Natal, ahn ... Posso lhe oferecer um xerez? - cumprimentou
papai.

Ah, vejo que já tem. Muito bem. Aceita um pastelzinho de
carne?


Você
dormiu com minha mulher - disse Julio, ameaçador.


Ele
é tão latino, rá-rá-rá - comentou
mamãe de um jeito coquete enquanto todo mundo ficava olhando
apavorado. Sempre vi Julio limpo, bem penteado e com uma bolsa
masculina. Agora estava desarrumado, bêbado e, para ser
sincera, exatamente do jeito que eu gosto. Não era de
estranhar que mamãe parecesse mais excitada do que
constrangida.


Julio,
seu bobo - arrulhou ela. Ai, Deus, ela ainda gostava dele.


Você
dormiu com ele - disse Julio, dando uma cuspida no tapete chinês
e subindo para o primeiro andar.

Mamãe
foi atrá
s, dando
um gritinho para nós:


Papai,
por favor, pode trinchar o peru e chamar as pessoas para a mesa?

Ninguém
se mexeu.


Muito
bem, gente - disse papai, com uma voz tensa, séria e máscula.

Tem um criminoso perigoso lá em cima fazendo Pam de refém.


Ah,
se quer saber, acho que ela não está ligando –
opinou vovó num raro e inadequado instante de lucidez.

Ah, olha só, tem um
biscoito no meio das dálias.

Olhei
pela janela e quase caí dura. Lá estava Mark Darcy,
firme como uma autoridade, atravessando o gramado e entrando pela
porta envidraçada. Estava suado, sujo, com o cabelo
desgrenhado, a camisa aberta.
Opa,
opa!


Fiquem
todos calmos e quietos, como se estivesse tudo normal - disse,
tranqüilo.

Estávamos
todos tão apalermados e ele tão seguro que fizemos o
que disse, parecendo zumbis hipno
tizados.


Mark
- sussurrei, quando passei por ele com o molho.

O que você está
dizendo? Não tem nada normal.


Não
sei se Julio é uma pessoa violenta. A polícia está
lá fora. Se conseguirmos fazer com que sua mãe desça
e ele fique lá, a polícia pode subir e pegá-lo.


Está
bem, deixa comigo - falei, e fui para o primeiro degrau da escada.


Mamãe!
- gritei.

Não consigo achar os guardanapinhos de aperitivos.

Todo
mundo ficou em
suspense. Não houve resposta.


Chame
outra vez - disse Mark, baixinho, me olhando com admiração.


Diga
para Una levar o molho para a cozinha - murmurei.

Ele
fez um sinal positivo com a mão. Respondi com
o mesmo sinal e tomei fôlego.


Mamãe?
- gritei para cima outra vez.

Sabe onde está a peneira? Una está preocupada com o
molho.

Dez
segundos depois ouviu-se um barulho pela escada e mamãe
apareceu, afogueada.


Os
guardanapinhos de aperitivos estão dependurados no gancho de
guardanapinhos de aperitivos, sua boba.Mas o que Una aprontou com
esse molho? Arre! Vamos ter de usar o espremedor elétrico
Magimix!

Quando
ela falou, ouvimos p
assos
lá em cima e um tumulto.


Julio!
- gritou mamãe e foi correndo para a porta.

O
detetive que eu tinha conhecido na dele
gacia
estava na porta da sala.


Muito
bem, fiquem calmos. Está tudo sob controle garantiu.

Mamãe
deu um grito quando Julio, algemado a um jovem policial, apareceu no
corredor e foi levado pela port
a
da frente, atrás do detetive.

Fiquei
olhando enquanto ela se recompunha e dava uma olhada em volta
da
sala, avaliando a situação.


Bom,
graças a Deus eu consegui acalmar Julio – concluiu ela,
aliviada, depois de um silêncio.

Não foi fácil! Você está bem, papai?


Mamãe,
sua blusa está do lado do avesso - disse papai.

Olhei
aquela cena terrível, sentindo como se o mundo estivesse
caindo à minha volta. Senti então uma
mão
forte segurando meu braço.


Vamos
- disse Mark Darcy.


O
quê? - perguntei.


Bridget,
não diga "o quê", diga, "desculpe, como
disse?" - sussurrou mamãe.


Sra.
Jones - disse Mark, sério.

Vou levar Bridget comigo para comemorar o resto do aniversário
do Menino Jesus.

Dei
um grande suspiro
e
agarrei a mão de Mark Darcy.


Feliz
Natal para todos - falei, com um sorriso simpático.

Espero que a gente se veja no bufê de peru ao
curry.

Eis
o que aconteceu a seguir:

Mark
Darcy me levou para o Hintlesham Hall para tomar champanhe e ter um
almoço de Natal atrasado, que estava m. b. Gostei
principalmente da liberdade de colocar molho no peru de Natal pela
primeira vez na vida sem me preocupar. Natal sem mamãe e Una
era uma coisa diferente e maravilhosa. Foi muito fácil
conversar com Mark Darcy, principalmente porque podia comentar sobre
o cerco festivo da polícia a Julio.

Mark
tinha ficado quase o mês inteiro em Portugal, como se fosse um
eficiente detetive particular. Ele me contou que seguiu Julio até
Funchal e descobriu onde estava o dinheiro, mas não conseguiu
convencer nem ameaçar Julio
para que ele devolvesse nada.


Acho
que agora ele vai devolver - disse ele, rindo.

Mark
Darcy é mesmo uma pessoa maravilhosa, além de s
er
bonito à beça.


Como
é que ele voltou para a Inglaterra?


Bom,
desculpe usar um lugar-comum, mas descobri seu calcanhar-de-aquiles.


O
quê?


Bridget,
não diga "o quê", diga, "desculpe" –
consertou ele. Eu ri.

Percebi que, embora sua mãe seja a mulher mais impossível
do mundo, Julio a ama. De verdade.

Maldita
mamãe, pensei. Como é que ela consegue ser uma
irresistível deusa do sexo? Talv
ez
eu devesse pintar o cabelo.


E
aí, o que você fez? - perguntei, me contendo para não
começar a gritar: "E eu? E eu? Por que ninguém me
ama?"


Eu
apenas avisei a ele que sua mãe ia passar o Natal com seu pai
e que eles iam dormir na mesma cama. Desconfiei que ele era maluco e
burro o suficiente para tentar, digamos,
impedir
isso.


Como
você sabia?


Palpite.
Faz parte do meu trabalho - explicou Mark.

Nossa,
como ele é incrível.


Mas
você foi maravilhoso, largou seu trabalho para fazer tudo isso.
Por quê?


Bridget,
não acha bem óbvio?

Ai,
meu Deus.

Quando
subimos, ele tinha reservado uma suíte. Foi incrível,
muito elegante e uma delícia e mexemos em tudo e tomamos mais
champanhe e ele disse como gostava de mim: tipo da coisa, a
liás,
que Daniel jamais faria.


Então
por que você não me ligou antes do Natal? perguntei,
desconfiada.

Deixei
dois
recados na sua secretária eletrônica.


Eu
não queria falar com você antes de terminar meu
trabalho. E não achava que você gostasse de mim.


O
quê?


Bom,
você não saiu comigo porque estava secando o
cabelo.
E quando nos conhecemos, eu estava com aquele ridículo suéter
e as meias com estampas de abelhinhas que minha tia tinha me dado,
parecia um completo idiota. Achei que você tinha pensado que eu
era um pateta.

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